terça-feira, 1 de março de 2011

Frank no divã.


Então... o senhor convidou-me, não é mesmo?

Está correto.

Bem?

Bem o quê?

Precisa de meus serviços, mas até o momento estamos aqui, olhando um para o outro, sem mais nada a fazer.

Oh, doutor, me perdoe. Estava divagando...

Então divague comigo. Vamos! Desembucha.

... Nossa intimidade não chegou a tal patamar...

MAS EU SOU UM PSIQUIATRA, VOCÊ PRECISA EXPOR SEUS PROBLEMAS PARA MIM!!

Um perturbador minuto de silêncio.

Certo! Então vamos lá. O que me incomoda é esta solidão. São anos sem relacionamentos...

Desculpe-me, senhor... hã... Frank, mas a sua horrenda aparência talvez contribua um pouco, não?

Não seja modesto e nem eufeminístico, "doutor". Toda a razão desta vivência isolada se deve principalmente a minha mostruosa deformação. Esta é a minha maldição. Criado por curiosidade e abandonado pelo meu criador quando se deu conta do ato vil cometido. Sou uma abominação!! (soluços)

O psiquiatra sai da cadeira delineadora de coluna em que estava sentado e aproximou-se de mim. Minha carranca não o perturba. Ele apoia uma mão no meu ombro.

Sabe que conselho posso te dar (mesmo sabendo que ele não terá qualquer proveito): arranje uma mulher, filho!

O senhor acha que eu não tentei??? Insisti para aquele biltre do meu criador me providenciar, mas ele temeu que nossa cria destruisse a obra do homem com nossa "maldade".

Não há ninguém que conheça, nas redondezas?

Sempre haverá os curiosos... além de Horácio, meu velho camarada.

Então você não está inteiramente só!

Ele é um fantasma, doutor! Nossa relação não é tão coerente quanto qualquer outra! Não posso nem lhe apertar a mão. 

Sei... Sabe... Acho que nem um de meus conselhos poderia ter um resultado satisfatório, pois você é um... caso excepcional. Mas não fique triste. Tenho muitos amigos que gostariam de conversar com o senhor. E pelo que percebi, o senhor é bastante culto. Acredito que eles o adorarão. Na verdade, até eu estou  empolgado em estar aqui.

"Poderíamos ser donos do mundo! Fazer dos outros nossos escravos!"

Outro minuto perturbador em silêncio.

Hã... creio que encerramos por hoje, doutor. 

Levo-o até a porta. Estou sendo um pouco rude, mas sei que me agradecerei por isso...

Mas... Senhor Frank... Eu...

Uma vez fora do castelo, não ouço mais sua voz. 

Mais tarde, balançando numa rede e tomando um refresco, descanso. Horácio aparece.

Frank!!! O que houve com aquele homem mais cedo? Por que o expulsou daqui?

Joguei a boa e velha sementinha da curiosidade...

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