sexta-feira, 4 de março de 2011

Ceticismo extremo.

Alguém bate na porta e aguarda. Como não há resposta, bate um pouco mais. Ouvem-se passos cambaleantes se aproximando. Um som metálico de algo sendo destravado. Na verdade, cinco sons metálicos. Mais precisamente, de cima para baixo.
A porta é aberta e um senhor, cujo apelido é Brasileirinho, aparece à meia-luz. O pega-ladrão mostra o quanto ele preza por sua segurança e o tanto que ele é desconfiado.

Boa noite, "Brasileirinho". Que bom que pude encontrá-lo em casa. Estava na esperança de poder informá-lo sobre uma situação deveras urgente.

Não o conheço e nem lhe dou a intimidade de me chamar pelo meu apelido.

Desculpe. Não tive a intenção de ofendê-lo, mas creio que isso não é tão importante quanto o que tenho para lhe contar.

Escuta... Eu não faço a menor ideia de como descobriu meu apelido e onde moro, mas isso também não interessa no momento, o que vem ao caso agora é que não estou interessado em qualquer baboseira que você pretendia me vender.

A porta se fecha.

O homem espera um pouco, pensativo. Resolve tentar novamente.

Os passos são agora um pouco mais rápidos do outro lado e a porta só não é escancarada por causa do pega-ladrão.

Esbaforido, Brasileirinho nem espera o homem falar:

Olha! Não vai adiantar ficar batendo na minha porta. Esta será a última vez que te dou atenção (só porque sou um cara legal), por isso, vade retro e não me amole mais!

Espere! Pelo menos ouça o que tenho a dizer. Prometo que não é nada religioso e nem venda de qualquer produto.

Brasileirinho olhou daquela forma que só os desconfiados profissionais olham. Deu uma fungada e engoliu em seco antes de proferir:

'Tá bom. Mais seja breve

O homem não resistiu e sorriu.

Antes de tudo, Brasileirinho, gostaria que você não tratasse essas informações com o seu senso comum. Descarte todos os seus dogmas e paradigmas. Isso está além do que qualquer ser humano já presenciou. 

Atrás do homem surgem luzes, que ficam se movendo aleatoriamente em torno dele. Brasileirinho não parecia impressionado. O homem continua:

Este momento é único na história desta humanidade. Eventos catastróficos irão ocorrer e não há nada para impedir. Contudo, há uma maneira de minimizar o custo de vidas perdidas. Eu o escolhi para que seja um dos propagadores da notícia. Passarei para você tudo o que vi e me foi informado, pois tenho fontes confiáveis. Com elas, poderá realizar muitos feitos maravilhosos.

E assim o homem discursa com entusiasmo sobre o grande cataclismo, dando detalhes sobre o evento; mostrando fotos e páginas e mais páginas do assunto. Tudo bem orgânico e sistemático. No fim, com a mesma candidez com o qual começara, o homem encerra. Daí, ele aguarda uma reação de Brasileirinho, que permanecera todo o tempo calado e com a boca entreaberta. Por fim, Brasileirinho diz:

Nunca vi uma mentira tão bem contada!

E desata a rir feito um alucinado.

Com lágrimas, ele aperta a mão do homem e, ainda rindo, cerra a porta para não mais abrir naquela noite.

O homem apenas lamenta e sai.

Alguns meses depois, quando comemorava numa mesa de bar alguma coisa com seus amigos de cachaça,  uma série de tremores abalou a cidade e acabou engolindo Brasileirinho e mais uma centena de pessoas da circunvizinhança. 

Enquanto isso, Estrangeirinho já se encontrava numa região à salvo, com sua família e um monte de pessoas que acreditaram nele.


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