...mas continue contando, o que senhor fez quando o chamaram de analfabeto?
Ninguém me chamou de analfabeto.
Não? Que estranho... Tem certeza?
Os resquícios que sobrara de minha paciência haviam enfim escoado pelo ralo.
Escuta aqui, moça: EU NÃO TE CONVIDEI PARA ANDAR COMIGO!! POR ISSO, DEIXE-ME EM PAZ!!
Ai que bruto! Tá bom! Tá bom!
Contudo, ela continua andando ao meu lado, concentrada, como se buscasse na memória alguma explicação para um fato qualquer.
Tem certeza MESMO?
Não resisti à curiosidade.
Do quê?
De que não te chamaram de analfabeto?
Pensei seriamente em enforcá-la, mas fui impedido deste ato vil quando ouvimos um baque surdo, próximo dali.
O que se passa?
Era um pássaro. Estava estatelado no chão. Definitivamente morto.
Logo em seguida, outros seguiram-no. Uma chuva sinistra de aves caiu diante de nós.
Meu Deus! Oh Meu Deus! Mas o que está havendo?!?
Ao fitar o galho de uma árvore balançando eu obtive a resposta.
É o gato a jato... EI!
Ele nos fitou.
É... Você mesmo! Não tem vergonha?
Ele deu de ombros. Daí então, iniciou uma sequência de sinais com as patas dianteiras. Infelizmente, eu não entendo libras. Infelizmente, a mulher entende. E ela não perde tempo na tradução.
Ele tá perguntando o que tá pegando?
Diga a ele que é cruel matar todos estes pássaros de susto! Se fosse pelo menos para comer... Mas por diversão!! Faça-me o favor!!
Quando a mulher encerra o conjunto de sinais, o gato sorri e some.
Se ele pudesse falar, diria: "Asas batendo, marcha de decolagem, turbinas e JÁ!!" |
Gato miserável...! Bem... O mal que ele fez não pode ser desfeito, por isso, devo seguir em minha jornada.
Espere!
O que é, mulher!?!?
O senhor ainda não me respondeu o que fez quando o chamaram de analfabeto.
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