terça-feira, 26 de abril de 2011

A viagem se inicia.


As nuvens foram se aglomerando. Escuras, traziam em seu ventre uma carga líquida retumbante, aguardando o momento crucial para cair.

Quando os primeiros pingos desceram, logo o cheiro de terra úmida preencheu o ar.

Aspirei com força e meu cérebro deu um estalo. A névoa aromática que me circundava acompanhou-me durante um bom trecho.

Apesar de estar com uma poção vendida a um preço exorbitante pela raposa, decidi usá-la só quando fosse realmente urgente. Era um pequeno recipiente, talvez de 200 ml, no máximo.

Como diante de mim só havia um longo caminho, não achei necessário me exasperar com inconvenientes encontros. Além do mais, a chuva não permitia uma visualização clara de minha pessoa.

Não estava a fim de me esconder. Por isso os automóveis que iam e vinham apenas embalavam a minha caminhada com o ronco do motor que crescia em sua vinda e decrescia à medida que sua silhueta desaparecia no horizonte. Minha indiferença, juntamente com a forte impressão que minha figura causava nos motoristas, auxiliavam meu espírito solitário a permanecer consistente. Não queria carona. Sou resistente. Não criado com este intuito, mas devido às intempéries, forçado a ser.

Pedrinhas eram chutadas; galhos de beira de estrada era quebrados; desenhos aleatórios se formavam com o contato destes galhos contra o chão; os carros zuniam; a viagem enfim tornava-se real.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fim do jogo.

Para saber como Frank chegou até aqui, recomendo que leia, na sequência:

http://almabane.blogspot.com/2011/03/escuridao-nada-mais-e-que-ausencia-de.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/o-castelo-diz-nao.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/condicao.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/pepe.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/pistola-de-nanicolina.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/apoteotica-trajetoria-para-o-interior.html

http://almabane.blogspot.com/2011/03/para-sair-diga-senha.html

http://almabane.blogspot.com/2011/04/indagacoes-e-possiveis-solucoes.html




Ela estava extasiada, com um riso frenético querendo explodir, tamanha era a alegria.

Desculpe, minha senhora, mas não consigo entender o propósito desta brincadeira sem graça. Você primeiramente entrega-me sua rebenta, como um saco de estopa velho, e agora me diz que só a terá novamente em seus braços caso eu acerte mais uma miserável senha? Sinceramente, tome-a e não se fala mais nisso.

Ela recua, as mãos para trás. Sua feição lembrava-me uma menina sapeca que insistia em querer brincar.

Por favor, senhora! Como disse ontem, eu estou indo embora! EMBORA!! PARA LONGE DESTA INSANIDADE!! Pegue sua filha...

Hum... Não.

Meus circuitos estavam entrando em curto. Não podia tolerar mais esta bobagem. Enfático, coloquei a criança no chão com delicadeza. Contudo, a magia estava no ar, e antes mesmo de levantar-me por completo, já estava com o bebê nos braços novamente.

Tem que dizer a contra-senha...

Derrotado, pois sabia que por mais que tentasse iria continuar com a criança, me rendi aos caprichos daquela loucura.

Ajude-me, pelo menos...

Desta vez está por sua conta.

Ai.

Quer um auxílio, Frank?

A voz da raposa sibilava até meus tímpanos.

O que você quer em troca?

Apenas fazer negócio com você. Compre um produto meu e eu te digo a contra-senha.

Parei um momento para clarear os meus pensamentos. Sabia que não havia outra maneira. Concordei. 

Patas de galinha. Esta é a contra-senha.

Nunca iria descobrir.

E assim, comprei a minha saída.

Muito bem, dona. Do início.

Ela sorriu ao dizer:

Reintegro.

Patas de galinha.

E assim ela aceitou de bom grado a filha e eu finalmente pude me despedir deste lugar tão cheio de frescuras.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Indagações e possíveis soluções.

O nascer do Sol é bonito de se ver, mas a minha situação não.

Não posso ir embora. Não com este pequenino ser que dorme em meus braços. A minha sorte é que desde que foi simplesmente jogado para mim, ele ressoa tranquilo.


... Eu não tenho cacife para cuidar dele. Mas falta-me coragem para livrar-me da criança. O que fazer, então? Pense, Frank, pense!

E para completar, uma cidadã curiosa, que há algum tempo me encarava de longe, vem até mim.

Com licença, senhor. Por acaso está perdido? Posso ajudá-lo?

De repente, mais do que de repente, me veio à mente uma ideia. Arrisquei:

Eu sou a flor silvestre que perfuma os campos.

Ela fez uma cara de espanto, mas mesmo assim ousei repetir:

Eu sou a flor silvestre que perfuma os campos. Não há nada que queira me dizer a respeito disso?

Eu hein?! Está me achando burra, por um acaso. Nessa eu não caio!

E assim ela se vira e vai.

Droga...

A raposa ainda espreita.

Ei, amigo.

Não sou seu amigo.

O meu sentimento abraça o seu.

O que você quer, raposa? Já disse que não estou interessado nessa tua poção.

O que pensa em fazer com a criança? Sempre há a possibilidade de simplesmente deixar a natureza cuidar dele.

Antes disso deixo você aleijado.

Calma... Foi apenas uma sugestão.

Que beneficia completamente sua pessoa, hã?

Eu não dito as regras...

Sai. Agora.

Enquanto fito a célere escapada do animal, penso que seria mais fácil se apenas caçasse a mãe e a entregasse. Estou perdendo muito tempo. Já deveria estar a quilômetros daqui. Droga.

Contudo, antes de dar o primeiro passo, eis que ela surge na minha frente e diz:

Reintegro.

E lá vamos nós outra vez...