quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O retrato. (atualizado)

O local de trabalho não era o idealizado pelo rapaz, mas ele gostava do ambiente mesmo assim.


Num belo dia de quarta-feira, da parede na qual ninguém prestava atenção surgiu um olho. Mesmo estando ali, arregalado, como que em desespero, nenhum dos presentes se interessou em notá-lo. Para ser mais preciso, o globo ocular era o esquerdo e se mostrava em tons de cinza. Ele piscou várias vezes, chamando a atenção, mas ninguém escuta um olho..


Os dias foram passando. As semanas corriam em esteiras ergométricas de alta intensidade. Até que em um dos meses mais insignificantes no ano, um retrato de uma menina se desenhou na parede laranja.

Interessante notar que, no processo de desenvolvimento, os pedaços que iam aparecendo se mexiam. Porém, ao formar todo o rosto da garota, a imagem ficou estática, como geralmente os retratos são.

Mesmo com os inspirações e expirações proposiltamente altas, com as mexidas das orelhas e com os chamamentos, canções, assobios e, às vezes, gritos, todas as intenções que a menina tinha em querer ser notada acabaram não levando à nada. E com todo o rosto formado, se pretrificou. Situada num lugar cinza, a expressão dela acalentava um misto de muitos sentimentos: angústia, indiferença, tristeza, etc. Assim como mostrava sofrimento por vários motivos, como fome, por exemplo. 

Mas, a verdade enfim revelada é que ela ficou assim devido à indiferença dos trabalhadores, tão ocupados em seus afazares.

Aí você se pergunta: e o que o rapaz do início tem a ver com isso? Bem... foi ele que de repente parou, fitou o retrato de "Elisabeth" (como acabou sendo batizada) e se questionou quem teria posto aquele retrato ali.

Esta é Elisabeth. Foto de Sebastião Salgado.

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