A brisa da beira-mar tonteia os sentidos. A maresia vem e traz sua calma. Ao se chocar nas íngremes rochas que se elevam além da conta, a espuma chia.
"Voltei!", animado, grito aos 4 ventos minha satisfação. Contudo, não havia ninguém para receber-me.
"Ora", pensei, "Achei que pelo menos aquela 'alma sebosa' do Horácio viria de pronto ao meu encontro."
O castelo estava do jeito que o deixei. Somente o acúmulo de poeira denunciava a minha ausência.
Ansioso, subi rapidamente para meu quarto. Quando escancaro a porta, eis que me deparo com uma cena insólita: Horácio, o plácido fantasma da torre sul, meu grande amigo de longa data, estava debruçado sobre meus escritos e gargalhava de um trabalho sério. Tudo estava esparramado.
Ele me olhou assustado. Ambos nos encaramos por um momento. Suas lágrimas translúcidas devido ao riso ainda escorriam em sua alva face. Eu permanecia rígido, sem transparecer qualquer sentimento. Então ele berrou:
"FRANK!!! Meu camarada!", mesmo com sua disposição em me mantive acabrunhado. Ele continuou: "Rapaz, o material que você tem aqui é hilário!"
Esse comentário certamente foi infeliz da parte dele. Entretanto, os estalos e altas doses de eletricidade que se debatiam em minha cabeça não me permitiram manter o sobrolho carregado. Para aliviar a tensão (minha, pelo menos), soltei um riso, no princípio vacilante, mas gradualmente mudando para um sincero e bem-humorado.
"E o que você viu aí para o que levasse às lágrimas, meu caro Horácio?"
"Estes teus últimos textos, Frank! Parece-me devaneios de um louco!"
"Grande Horácio, sempre me pareceu cético demais! E o pior é por tratar-se de um fantasma! Eu te disse que não assistisse mais televisão..."
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