Como esta manhã cinza desperta-me emoções de alto impacto...
Ora, o que vejo ali? Um jovem que acelerado se dirige para cá! Melhor ir à porta e verificar isto.
A porta range, suplicante, mas não tanto quanto o rapaz ao chegar.
"Por favor, senhor! Eu lhe peço, por tudo que é de mais sagrado... Livre-me deles!"
Eu não podia negar tal súplica. Pobre garoto, o que poderia ser tão terrível para transformá-lo apenas numa sombra do que, acredito, ele era?
Cerrei a porta antes de poder ver a multidão que se avizinhava.
"Tranque bem os portões! Use todos os cadeados disponíveis!"
"Calma, rapaz. Nada passa sem minha autorização (além do que, possuo o que há de mais sofisticado em sistema de defesa). Agora, explique-me o que ocorre."
"Antes, vamos nos afastar daqui."
Concordei. Assim, já no topo da torre norte, após tomar fôlego e água, o jovem inicia sua narrativa:
"Pelos meus trajes você deduz que não faço parte desta cultura, afinal, aparento normalidade enquanto ao meu redor vejo inconstâncias.
Dirigi-me, assim que cheguei a esta metrópole, a um local no qual fui informado por fontes não-oficiais de que acharia o que precisasse. Chamam-no de Shooping.
Inserido no contexto mercadológico que move ambientes como este, pedi esclarecimentos sobre determinado produto cuja loja não encontrava. Porém, antes que pudesse obter qualquer resposta satisfatória, fui tomado de assalto por um volumoso grupo de seres que circulava pelos corredores abastados de gente. Meu pavor, devido principalmente às vestes que usavam, fizeram-me alvo dos olhares deles.
Estes são a versão "dark". |
Não conseguia entender... Na verdade, eu não conseguia discernir quem era homem e quem era mulher naquele meio. Todos usavam calças apertadas, cada um com uma cor mais berrante que outra, assim como as camisetas (geralmente com estampa quadriculada), tênis e óculos; e os cabelos...! Oh, Deus, os cabelos!! Eles não sabiam que direção tomar!
O meu pânico alimentava o entusiasmo deles! Indevidamente estava, inteiramente, à mercê da atenção deles.
Tentei disfarçar, caminhando um tanto quanto ligeiro para longe dali, mas não deu. Precisei correr para despistá-los, contudo, para onde eu fitava via um deles a me encarar.
Desembestado, saí em disparada daquele antro. Mas todos eles, em grande número,vinham em meu encalço. E enquanto me perseguiam, soltavam gritinhos histéricos e músicas melancólicas.
A uma certa distância, vi uma solitária mulher plantada no meio da calçada. Ia pedir-lhe abrigo, qualquer ajuda, contudo, ao sentir um mal-cheiro de carne putrefata, constatei, para o meu assombro, que era a roupa daquela mulher um animal esquartejado!
Quase sem sentidos, acabei me deparando com o seu castelo. Era minha última esperança. Graças que você não pertence a esta gangue... Agradeço imensamente a você por tudo."
Quando concluiu, ele desmaiou de exaustão.
Após depositá-lo num assento, fui até o parapeito, curioso. O que vi me transtornou: era um emaranhado de cabelos desgrenhados usando calças espalhafatosas. Ao fundo, uma música começou a subir. Ela tinha uma parte mais ou menos assim:
RA-RA-RARARARA-GA-GA-U-GA-GA...