Uma chuva rala encerra a tempestade. Um poderoso Sol aparece em toda a sua grandeza no início de um novo dia.
Cordilheiras vão se distanciando à medida que sigo no trecho anguloso, que corta uma floresta ancestral, sempre descendo.
A trilha sonora envolvente das diversas espécies de pássaros embalam minha descida. Árvores de grossos caules sustentam volumosos galhos, sombreando-me. Vez ou outra, de soslaio percebo movimentações furtivas de animais pequenos. Só faltava uma mulher cantarolando com os animais da floresta para completar a paisagem idílica.
Agora não falta mais. Bem... quase isso.
Uma mulher de suntuosas formas corre em minha direção. Sua roupa esportiva, juntamente com um aparelho de som portátil, cujos fones centravam sua atenção apenas ao exercício, atualizavam a forma de interação entre ela e os pobres e ignorados animaizinhos do lugar. Solitária, de sobrolho cerrado, a mulher parecia deslocada com relação àquele local.
De tão concentrada ela só acaba me percebendo quando já estava praticamente passando por cima de mim.
Ei! Cuidado aí, cara! Não está vendo que...
Daí ela finalmente olha para mim.
Meu Deus! Você é um monstro!
Também não precisa ofender.
Você vai me enforcar?
Por que eu faria isso?
Não sei... Talvez por você ser um... monstro?!?!
Calo-me diante de tamanha injustiça.
Você vai me deixar ir? Por favor, eu tenho uma carreira para ascender. Logo agora que minha vida estava entrando nos eixos me acontece uma fatalidade dessas...
Com licença, mas eu não consigo ver fatalidade nenhuma. Acho que está exagerando. Por que não vai simplesmente embora?
Porque você pode me acertar quando eu der as costas!
Bah! Quer saber, vou andando! Até nunca mais.
Espere! Não se ameaça as pessoas assim e depois vai embora! Volte aqui!
Ouço cochichos da mata... E risos abafados.
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