Como se sabe, o som dificilmente será percebido no espaço. Você poderá senti-lo, caso manifeste algum poder sobrenatural, mas nunca ouvi-lo. Pelo menos, assim pensava.
Ao longe, um objeto se aproximava, deixando um rastro que se alongava, tornando-o maior do que realmente era.
Ele veio com um marulho. Uma entonação murmurante a princípio, mas que gradativamente ecoou com força. Inacreditavelmente, era uma canção. A melodia inebriou-me de imediato. Era mais ou menos assim:
Pegar carona nessa cauda de cometa
Ver a via láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde numa nebulosa
Ver a via láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde numa nebulosa
Voltar pra casa nosso lindo balão azul
Quando ele se agigantou, percebi corpúsculos se movimentando. Ao verem-me, apontaram para minha direção e novamente se moveram. Pareciam estar confabulando para resgatar-me.
Na proximidade do cometa, os seres que pegavam uma carona nele utilizaram uma corda, na esperança de que eu a usasse para me apoiar e fosse puxado. E como era esperado, assim o fiz.
Uma vez em terra firme, eles ficaram me encarando. Eram humanoides de olhar terno; usavam trajes espaciais e aparentemente não se sentiam aturdidos por estarem em um cometa.
"Olá", fiz uma saudação silenciosa.
Eles se olharam entre si, com sorriso nos lábios. Depois, um deles se pronunciou, o som miraculosamente escapando do capacete translúcido:
"Você também é um cosmonauta?"