segunda-feira, 3 de novembro de 2014

As Crônicas de Igor (8) - Questionamento tardio.

O encontro inusitado fizera-me perceber o quão alheio mantinha-me diante da ilógica situação. Mordomo-rôbo e galináceas invasores de um satélite com uma imensa biblioteca? Era muito para uma mente sã.

Diante de minha perplexa constatação representada por uma encarada indagadora, a galinha de aspecto mais exuberante se pronunciou:

"E então? É seu ou não é?"

"Quem diabos são vocês?!", foi tudo que pude estabelecer numa linha de pensamento perturbado.

Elas olharam entre si, balançando a cabeça, certamente decepcionadas com minha resposta, daí então emitiram um ritmado cacarejo às suas costas. Num instante, surgiu por detrás de uma abertura um enorme galo, tão aristocrático quanto elas, e também um pouco afetado. Marchando em vez de caminhar, ele me encarava com o rosto petrificado numa inclinação ameaçadora. Sua aproximação escurecia o ambiente (aparentemente, parecia ter duas vezes o tamanho de suas companheiras), contudo, permanecia sóbrio em meu lugar.

Parando a dois metros de mim, ele vagarosamente inclinou a cabeça para o outro lado, cujo estalo fez eco. Estático, fitou-me com desdenhosa zombaria, soltando um misto de cocori-có com riso provocante. Continuei em meu lugar, sério.

Foi então que as asas se elevaram, tão céleres que o ar deslocado no movimento quase me fez afastar de onde estava.

Com determinação, o galo movimentou seus braços emplumados. Um redemoinho se formou. Tive que proteger a vista.

Quando menos percebi, tinha sido lançado ao encontro do teto, que se esfacelou, abrindo-se na imensidão espacial. Rodopiando, sentia a gravidade do lugar diminuir sobre meu corpo. Estaria condenado a vagar pelo cosmos?


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