sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O quarto do pânico.

As unhas quebradas, por terem raspado contra a porta, ainda permanecem fincadas nela. O braço penderia caso não estivesse fincado na madeira. O corpo, inerte, aguarda o momento em que aquilo irá findar, mas seu desejo não é atendido.

A boca seca, os olhos fundos, as costelas à amostra; a grande penitência.

Ele lutara até a exaustão. No princípio achou graça, mas com a insistente situação, sobrepôs-se o nervosismo e por fim veio o desespero.

O tempo ali não era medido e se um dia alguém ousou fazê-lo, este com certeza perdeu-se na nebulosa irrealidade do lugar.

Este, senhores, é o verdadeiro quarto do pânico. E este é o depoimento do infeliz que o adentrou:

Quisera eu não ter cedido à tentação, mas a tendência do homem é buscar sarna para se coçar. E eis que lá estava ela, uma exuberante morena de cílios maliciosamente caídos e bem maquilados, encarando-me. Que pudera eu fazer, a não ser aproximar-me?

Uma conversa despretensiosa, cujo objetivo seria apenas perder-se no âmago imaginativo do desejo, foi pouco a pouco solidificando-se na matéria. Ela desdenhosamente oferecia-se a mim (algo a se desconfiar, mas que nós, homens, tendemos ao engano pensando no sucesso da conquista) e insinuante, distanciava-me dos demais convidados daquela maldita festa de que contente recebi convite.


Tudo ali era medonho, de péssimo gosto; assim como a maioria dos que ali estavam. Não estaria naquele carnaval não fosse um conhecido (mil vezes desgraçado!).

Quando menos esperei, fui empurrado para uma abertura escura na parede pela suntuosa mulher. Quem via à primeira vista, poderia dizer tratar-se de uma passagem para algum cômodo, só que sem porta. Ah, que ingenuidade!

Logo entrei, uma porta antes inexistente cerrou-se do lado de fora. A escuridão instantaneamente ocupou o local.

Por achar que era algum jogo, achei graça. Sem jeito, chamei-a. Contudo, o ar estava pesado e eu emiti as palavras com dificuldade. A grande mortalha desceu de vez!

Por incontáveis vezes bati à porta. Os ares de brincadeira sucumbiram diante do meu desespero. Nada via; era um vazio penetrante...

Não sei quanto tempo havia passado. Uma infinidade? Não sei. Mas tive tempo de analisar toda a minha vida incontáveis vezes.

A esperança, em vão, ainda persistia, principalmente quando os devaneios ondulavam pela minha cabeça.

Mas, abruptamente meus olhos queimam. Um enorme clarão se faz presente. No início, acreditei que finalmente partia dessa para melhor, contudo, ao perceber formas de estantes num salão gigantesco, pensei:


A loucura enfim não tardou...

Não poderia estar mais errado...

Demorou, mas, curiosamente, um ser aproximou-se de mim; ele parecia ter caminhado muito. A impressão que tive foi que ele não acreditava no que via e, cautelosamente, tocou-me. Pude discernir:

Quem é você? O que faz na biblioteca do castelo?

Descobri depois que seu nome era Frank.

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