terça-feira, 17 de setembro de 2013

Crônicas de Igor (3) - A Estação.



Uma porta, escancarada. Na verdade, uma passagem retangular, sem nada que impedisse alguém de cruzá-la. Dela, uma tênue luz escapava, sorrateira.

Parei por uns instantes à sua frente, aguardando qualquer movimento. Contudo, o cenário insistia em sua inalterabilidade. Vistoriei os arredores, sem pressa. Nada.

Vendo que não haveria problemas, entrei. Por um momento, minha vista embaçou, forçando-me a acostumar à incandescência que a princípio não aparentar ser tão forte.

"Olá", a voz metalizada surpreendeu-me, mas não a ponto de fazer um escândalo. Era um robô humanoide, sem adereços.

"Oi", aguardei apreensivo um sinal de resposta.

"Bem vindo à Estação", abriu os braços e curvou-se enquanto dizia. O zumbido do movimento era agradável. Quando falava, uma luz cintilava na região bucal. Dos olhos, amendoados e escuros, pude perceber uma leve claridade lilás.

Esperei o próximo passo. Ele voltou à posição original e falou:

"Gostaria de conhecer o lugar?"

Fitei-o, desconfiado, mas, no fim, dei de ombros e disse:

"Ora, por que não? Vamos lá!"


sexta-feira, 1 de março de 2013

Crônicas de Igor (2) - Luz na escuridão.

Como era possível respirar? O satélite não possuía atmosfera. Não podia nem sequer ouvir meus passos na imensidão desértica enquanto buscava algo de extraordinário em meio a desolação.

Apesar da fantástica vista proporcionada pela escuridão persistente, a absurda sensação de solidão fez meu coração acelerar. Inexplicavelmente, as funcionalidades de meu corpo não pareciam propensas ao colapso do ambiente hostil. Ao contrário, elas se adaptaram.

Quem, ou o que tivesse feito isso comigo, eu intimamente agradecia a oportunidade de permanecer vivo. Mas precisava encontrar algo que afastasse de mim a senilidade.

Felizmente, minhas preces foram atendidas.

Mais a frente, uma torre pálida como a lua cortava o céu estrelado e uma fagulha azulada escapava do seu topo.

Uma luz na escuridão - Foto de Miguel Lucena.


Diante desta visão segurei a respiração (algo que não precisava, mas a emoção incondicional tomou conta de meu corpo, resvalando as lembranças de antigas sensações). Resoluto, segui em sua direção, admitindo a impossibilidade na certeza de encontrar vida inteligente ali.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Crônicas de Igor (1) - Renascimento.

De um instante, tempo demasiado se passou. Fronteiras cruzei. Belezas admirei. Desafios enfrentei. E cá estou para revelar a magnífica empreitada. Vivo. Fatigado. Grato. Espero que seja do seu agrado o que será revelado.

IGOR INICIA O SEU RELATO:

Explosão de ensurdecedor proporção. O caos se instalando no menor espaço existente. Densidade máxima numa pressão caustrofóbica. Não se respirava. Não se vivia. Imutáveis sensações experenciadas.

De repente, novo ribombar. Movimentos caleidoscópicos de infinitas tonalidades. Azul, anil e amarelo. Verde, laranja e vermelho. Confusão. Tontura. Vazio e preenchimento. Paradoxos coexistindo.

Daí então um novo nascimento. Eclodido do ventre da galáxia. Impulsionado pela vontade arrebatadora, despenquei num globo árido, hostil.



Uma nuvem espalhou-se do local da minha queda, levada vagarosa pela atmosfera rarefeita.

Levantei assombrado, observando as constelações escancaradas sob minha cabeça. E, mais à frente, um enorme globo gasoso se avizinhou.



Um prisioneiro. Apanhado pela força irresistível, o corpo celeste em que fora lançado estava à mercê do imponente planeta que rotacionava devagar.

Que surpresas poderia emergir dali? Não sabia. Pensei demoradamente antes de, resignado, procurar o meu espaço.

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OBS. Esta postagem dá continuidade a esta história: