Houve um momento em que a ficção embalava a imaginação dos idealizadores e, com sorte, alguém decidia investir tempo naquele ápice criativo e desenvolver a ideia, tornando-a uma realidade.
Hoje, parece que pareamos (excetuando alguns casos ainda não catalogados) ficção com realidade. E nada mais palpável do que observarmos as produções recentes, seja na TV (cuja qualidade de alguns programas atinge patamares elevados), seja no cinema. Em especial, na série dramática criada por Jonathan Nolan e produzida por J. J. Abrams, vemos uma ruptura entre o que chamamos cotidiano e fantástico.
Com início de exibição no ano de 2011, a série trata, principalmente, da tentativa de um enigmático senhor chamado Harold Finch de auxiliar (ou impedir) pessoas de se machucarem. Ele é responsável pela construção de uma máquina que utiliza todos os recursos informativos disponíveis a fim de prever possíveis acontecimentos danosos ao país, como atos terroristas. Mas não é só isso... Além de ataques que afetariam muitas pessoas, ela também alcança casos considerados irrelevantes para o governo (que detém o controle da máquina), cuja lista é eliminada ao fim do dia. É justamente nos casos "irrelevantes" que Harold se concentra, mas para isso ele precisa de alguém treinado, que impeça os acontecimentos trágicos de ocorrerem, daí surge John Reese, um ex-boina verde e agente de campo da CIA dado como morto para auxiliá-lo.
O que começa como "caso da semana" (eles resolvendo um problema específico por vez) descortina-se sobre os envolvidos a intrincada história, cujos participantes desse perigoso jogo vão se revelando pouco a pouco e ganhando dimensões mais complexas.
O que me faz acompanhar a série...
A história trata de heroísmo e relações humanas numa Nova Iorque constantemente monitorada, mas ela é, principalmente, sobre a máquina. Os envolvidos nada mais são do que peões, inseridos numa batalha que eles sequer podem imaginar. O fato dessa proximidade vigilante nas quais nos submetemos por receio de sofrermos caso não estejamos sendo vigiados pelos olhos incansáveis do poder público (a qual delegamos nossa liberdade) torna a série objeto de discussão, onde o mundo representado em 1984 de George Orwell paira, assombrando-nos com sua intrusiva presença.
Uma cena antológica
Quando Harold comenta que as redes sociais facilitaram a vida do governo, pois não era mais preciso pedir à população informações sobre si.