quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

As leitoras de nuvens

Profissão pouco conhecida mas que, pouco a pouco, vem adquirindo um espaço maior na mídia. Há quem diga que as primeiras leitoras vieram das caravelas, predizendo, através do formato inconstante do firmamento, agouros que eram evitados pelos experientes marinheiros.
No instante em que aportaram, as leitoras logo se adiantaram em ter contato com o povo nativo, contudo, não obtiveram o respeito que esperavam, justamente porque os índios tinham, em seu meio, ótimos leitores e leitoras de nuvens e não careciam de caraíbas.
Apesar de resistirem, elas acabaram desacreditadas e por um longo tempo fizeram parte da história apenas como uma curiosidade inútil. Bem... até hoje!
E por que razão elas estão retornando?!?! Será que é devido a este período tão nostálgico que estamos vivenciando?
Esta primeira década tem mostrado o quanto temos saudade. Bandas antes finalizadas retornam, produtos e marcas retornam, então, por que elas também não retornariam, apesar do gigantesco hiato pelo qual passaram?
Mas há uma explicação, e ela não se refere simplesmente ao que foi exposto anteriormente. Não!
Conspirações, mudanças climáticas drásticas e o eterno retorno se mesclam numa coisa só. O que antes era abominação, algo exótico e deveras místico, agora é procurado até por céticos.
E o que elas estão prevendo para que mereçam novamente destaque?
Ouçamos uma delas:
"Ah, meu filho, aquela nuvem tem o formato de um homem caindo..."
"E o que isso significa?"
"Bem..."
Contudo, antes que pudesse responder, homens fardados entraram e a levaram. Até o momento ninguém sabe o paradeiro dessa incrível mulher que (assim como outras que tiveram o mesmo destino), além de cozinhar, passar, lavar, também dedicam seu tempo a decifrar as mensagens das nuvens.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O experimento - 1ª parte

Quando um pássaro se sente motivado a descer para colher alguns míseros grãos de pão lançados por um certo alguém que nunca fez questão de mostrar o lado caridoso para ninguém, haverá um cataclismo em potencial. Por quê? O que se pode esperar de uma pessoa que, por interesse próprio, lança bolotas de amido com a única finalidade de fazer uma experiência com a bendita ave que é tola o bastante em devorar tal alimento. Pois, senhores, no tão pãozinho macio e saboroso, esconde-se um produto deveras perturbador que, ao entrar no estômago do bicho, causa um efeito que irá se propagar até o cúmulo do ponderável, e daí ocorrerá a temível profecia. Pois a experiência não acabará no pássaro em si. Ela irá com ele aos confins de onde a penuda saiu, e uma vez lá, reverberá pelos quatro cantos, atingindo, sem distinção, qualquer ser que entrar em contato. Como uma praga incontrolável, disseminará o "mal " incontestável e a experiência terá, enfim, sido concluída com êxito.

Não haverá esperança de cura.

Não terá ninguém que saiba impedir a propagação.

E o inescrupuloso homem avarento voltará para o castelo (de onde pegara emprestado o recipiente contendo o produto da experiência) e comentará como a pimenta que levara para casa, num desdobramento culinário e altamente criativo que praticara, foi feliz em não gotejar um respingo sequer do tão forte condimento na buchada que servira para a família de sua noiva.

"Oh! Frank", disse ele para mim num misto de lamento e fúria, "Daqui uns dias irão te procurar".

"Quem?"

"Fique no aguarde..."

E assim o homem, cabisbaixo, foi-se do meu castelo.

O final dessa história, fica para uma próxima oportunidade.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Visão comum em tempos de Apocalipse.

Numa madrugada tempestuosa, incomum de sertão, mas coerente com os derradeiros acontecimentos mundiais (clima em clima de insanidade), fitei com espanto quatro cachorros em fila indiana, um fuçando o traseiro do outro. Com isso, fui subitamente contemplado com pensamentos invasores de fim de noite. Será que aquilo que via tão pasmado era uma matilha de cachorrofante ou uma manada de elefantechorro? Ou por acaso Horácio estivesse gastando mais energia do que devia ao varar a noite com experimentos, talvez inspirado pelos clarões dos raios e ensurdecedores roncos dos trovões? Sabem como é: em castelo beirando precipício, todos se sentem motivados a puxar a alavanca e ver Frank levantar...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Em todos esses anos, nesta indústria vital...

Testando: um, dois, três, um, dois, três... Não bastou a inquietante sensação de estar cada vez para trás num mundo informatizado; foram as estatísticas. Elas vieram a mim de maneira tal que não pude sequer questioná-las. Do que adianta tentar seguir um caminho árduo se você pode criar um blog? Que forma melhor de mostrar ideias e pensamentos? De se autopromover? Será do boca a boca que enfim sairei da obscuridade? Será que alguém lerá o que tenho para expor? Não importa se eu pensar que sim, ou não. As estatísticas não mentem. A probabilidade é enorme. Só sei que o arrebatamento virá e eu estarei aguardando-o aqui, em meu castelo.